INTRODUÇÃO
A ocorrência de dor, especialmente crônica, é crescente podendo ser atribuída a mudanças de hábitos, maior longevidade do indivíduo, a modificações do meio ambiente, do reconhecimento de novas condições álgicas e da aplicação de novos conceitos que traduzam o seu significado (TESSEROLI, 2001).
Os indivíduos com dor crônica tornam-se importante ônus para os serviços médicos, têm suas atividades habituais comprometidas, quer seja as atividades profissionais, lazer, social ou mesmo familiar, que muitas vezes os levam a incapacidade transitória ou permanente.
Ao avaliar o paciente com dor, o Cirurgião-dentista defronta-se com situações que variam desde quadros simples, facilmente identificáveis, até quadros álgicos complexos. Compreender e curar a dor é uma busca constante dos profissionais da área da saúde, entretanto entender as queixas e os comportamentos dolorosos de alguns pacientes requer treinamento, preparo e constante aprendizado. O papel da odontologia assemelha-se ao das várias especialidades médicas envolvidas com afecções que provocam cefaléias ou algias craniofaciais (SIQUEIRA, 1998), aumentando a responsabilidade do Cirurgião-dentista na área da dor.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
As odontalgias e as disfunções temporomandibulares são freqüentes queixas de dor odontológica (Bell,1991; Okeson,1998), mas seguramente não são as únicas, o segmento cefálico é rico em fontes potenciais de dor, e a Odontologia compartilha com a Oftalmologia e com a Otorrinolaringologia do diagnóstico e tratamento de patologias primárias da face. Várias outras especialidades médicas atuam direta ou indiretamente, na região facial, mas as dores provenientes dos dentes, da boca, dos músculos mastigatórios, articulação temporomandibular e dos maxilares enfatizam a necessidade da participação do Cirurgião-dentista em equipes multidisciplinares.
É importante que todo profissional na área de saúde tenha conhecimento sobre os sinais e sintomas que a disfunção temporomandibular pode provocar no indivíduo, pois devido à etiologia multifatorial, o paciente tem dificuldades de descobrir onde é realmente o seu problema. Dessa forma ele costuma a associar o principal sintoma percebido e a especialidade médica que deve procurar. MONTAL, 2001 em uma pesquisa realizada pelo “SERVIÇO – ATM” da UFJF em uma amostra de 121 indivíduos observou que 82% já haviam procurado no mínimo uma especialidade médica antes de chegarem ou serem indicados ao SERVIÇO ATM. A especialidade mais procurada foi a Otorrinolaringologia (53,3%), seguida da Odontologia, isto é cirurgião dentista clínico geral (24,6%), Neurologia (20,5%) e Ortopedia (13,9%).
A dor orofacial engloba vários subgrupos de entidades dolorosas, entre os quais estão as originárias da região estomatognática (complexo dento alveolar, músculos e articulação temporomandibular), denominada de Disfunção temporomandibular (DTM).
As DTMs caracterizam-se por uma série de sintomas e sinais que afetam a região orofacial, com influência multifatorial, e apresentam características próprias como exacerbação da dor durante a função, limitação da abertura bucal, desgastes nas superfícies dentárias, estalidos articulares, tonteiras, dores articulares, musculares, unilateral ou bilateral. A dor pode-se espalhar às diversas regiões faciais, causando cefaléias difusas, dores craniofaciais diversas, cervicalgias e estender-se eventualmente a regiões mais distantes. Os pacientes em sua maioria relatam presença simultânea de vários sintomas o que pode dificultar a indicação do profissional adequado. O desconhecimento desses sintomas pelos profissionais de saúde induz a realização de tratamentos empíricos e sem diagnóstico, consequentemente aumenta a probabilidade de terapêuticas, procedimentos inadequados e cirurgias desnecessárias que resultam em altos custos, maiores desgastes e incertezas, contribuem desse modo para a cronificação da dor, aumentando a apreensão das pessoas envolvidas.
A persistência da dor, inclusive por DTM, produz interferências no comportamento social, no trabalho, na escola e, na associação entre o curso da dor e seu tratamento, sendo relevante à avaliação dos aspectos comportamentais decorrentes da sua cronicidade. Os pacientes com dor crônica têm probabilidade de desenvolver sintomas de depressão quando comparados com os pacientes portadores de dor aguda.
É necessário que se faça um alerta quanto à tendência dos profissionais de priorizarem aquilo que mais conhecem, como acontece com a oclusão pelos cirurgiões dentistas e, com os fatores emocionais pelos psicólogos (FELÍCIO, 1994). Deve-se ser imparcial na pesquisa da fonte dolorosa e ter-se como objetivo sua identificação. Se esta estiver dentro do campo de atuação profissional ou de domínio de sua experiência clínica deve ser tratada, caso contrário, o paciente deverá ser encaminhado corretamente (TESSEROLI, 2004).
CONCLUSÃO
Atualmente as DTMs deixaram de ser avaliadas apenas como problemas oclusais, a oclusão é apenas um dos diversos fatores na perpetuação da dor.
Longe de diminuir a importância do Cirurgião-dentista a responsabilidade desse profissional aumenta, pois exigirá formação adequada para o atendimento, tratamento e abordagem de pacientes com dor crônica, além de ser capaz de identificar cada caso de dor orofacial seja ela por disfunção temporomandibular ou não, estar familiarizado com a farmacologia da dor e as diferentes terapêuticas alternativas, orientar e esclarecer os pacientes quanto aos hábitos parafuncionais, posturais e mudanças de comportamentos que podem atuar como fatores contribuintes e perpetuantes da dor. Fatores psicológicos devem ser considerados, pois são freqüentes as alterações neurovegetativas, de humor ou mesmo depressiva nos quadros dolorosos crônicos.
O paciente com dor orofacial, incluindo DTM, necessita de avaliação global, conduzida pelo Cirurgião-dentista, essa tarefa exige preparo, treinamento básico e clinico específico, desse modo será possível à compreensão de todos os fatores envolvidos e o tratamento correto do paciente.
REFERÊNCIAS
1. BELL,W.E. Dores orofaciais.Classificação, Diagnóstico e Tratamento. 3ed. São Paulo Quitessence Books, 1991 p.125-153
2. FELÍCIO, C.M. de – Fonoaudiologia nas desordens temporomandibulares: Uma Ação Educativa – Terapêutica, São Paulo, Ed. Pancast, 1994, cap 1, p.17-26
3. MONTAL, E.M. & GUIMARÃES J.P. Rev. SERVIÇO ATM – v.1, n.1 p.16-20 jul/dez. 2001
4. OKESON, J.P. Dores bucofacias de Bell. São Paulo: Quintessence, 5ª Ed.,1998
5. SIQUEIRA, J.T.T. Dor, Dor orofacial e Disfunção temporomandibular: ciência básica aplicada à clínica. In: SIQUEIRA, J. T.T Dor Orofacial e disfunção temporomandibular bases para o diagnóstico clínico Curitiba: Ed. Maio – 2004
6. TEIXEIRA, M.J. Epidemiologia da Dor. In: SIQUEIRA, J. T.T. & TEIXEIRA, M.J., Dor Orofacial-Diagnostico Terapêutica e Qualidade de Vida 1. ed. Curitiba: Maio 2001 p. 15-28
7. TRAVELL,J.G. & SIMONS’ D.G. Myofascial Pain Dysfunction – The Trigger Point Manual v.1- upper Half of body.2ed. Willians & Wilkins, 1999. p. 94 -17